A percepção e o processo de articulação de Signos

Certa vez, em meio ao emaranhado de significados e à constante luta para apreender a essência das coisas, nos deparamos com a complexidade do processo de articulação de signos. Ao longo desta trajetória, a simples tentativa de compreender a realidade revela-se uma tarefa exaustiva, como se cada momento em que o entendimento parece se aproximar, a névoa do desconhecido voltasse a envolver aquilo que se tentava alcançar.

10/9/20243 min read

O Labirinto da Percepção

No começo, há a percepção, essa forma sutil de acessar o mundo. Mas o que é perceber? Não se trata de um ato simples, evidente, que se desdobra linearmente. Ao contrário, perceber é ser lançado num abismo de incertezas, onde o que nos é oferecido pelos sentidos parece, por vezes, insuportavelmente incompleto. A realidade, sempre escorregadia, fragmenta-se diante de nossos olhos. Cada tentativa de captá-la, de retê-la, dissolve-se no fluxo caótico da experiência.

Perceber o mundo é estar à mercê de algo que não se pode controlar completamente, uma experiência angustiante que nos arrasta, tal qual Gregor Samsa, desperto em um corpo que já não reconhecemos, para uma existência cuja lógica nos escapa. E, assim como Samsa busca compreender sua nova forma, nós buscamos desesperadamente algum sentido nas impressões que nos são dadas. Contudo, ao mesmo tempo que nossos olhos nos mostram o que nos rodeia, a mente desconfia, hesita, incapaz de aceitar as coisas como são.

O Signo como Prisão

Quando finalmente nos encontramos com os signos, já não há alívio. Se, à primeira vista, poderiam ser vistos como caminhos que guiam a percepção em direção à compreensão, logo se percebe que os signos são, eles mesmos, um labirinto. Os signos, que deveriam iluminar a realidade, parecem se entrelaçar numa rede que só complica o entendimento. Cada signo é um cárcere onde o significado fica aprisionado, escondido atrás de camadas que não conseguimos descascar.

O signo transforma-se em algo opressor. Ele já não facilita o processo de significação, mas o obscurece. O indivíduo tenta articular um sentido a partir dos signos que encontra, mas o resultado é sempre o mesmo: incompreensão, frustração, uma sensação de estar preso em uma maquinaria que não pode ser controlada. Cada signo aponta para algo além de si, para outro signo, e assim sucessivamente, em uma cadeia interminável de referências que não levam a lugar algum.

Articulação: O Processo Tortuoso

O processo de articular os signos é, por si só, uma tarefa hercúlea. Há uma pretensão quase trágica no ato de articular, como se, de algum modo, fosse possível ordenar o caos, organizar as impressões e os significados que se oferecem à percepção. Mas essa tarefa, sempre que tentada, resulta num fracasso. A realidade, como Kafka bem sabia, resiste à organização, à explicação racional.

Articular um signo não é mais do que tentar decifrar um enigma impossível. Tal como o camponês na fábula que tenta entrar pela porta da lei, o sentido parece sempre ao alcance, mas eternamente fora de alcance. Mesmo os signos mais simples, aqueles que parecem tão evidentes à primeira vista, escondem camadas de complexidade que não se deixam penetrar.

As palavras que usamos para descrever o mundo, para articular o que percebemos, são insuficientes. Elas nunca conseguem capturar o todo, e cada vez que tentamos, a distância entre o signo e o significado parece aumentar. O esforço para articular algo claro e definitivo é sempre frustrado pela complexidade e pela ambiguidade que permeiam todas as coisas.

O Processo de Interpretar: Uma Luta Incessante

Ao final, resta o processo de interpretação, onde o indivíduo, já exausto de tentar organizar o mundo, se vê envolto na tarefa de dar sentido àquilo que conseguiu articular. Mas a interpretação é uma espada de dois gumes. Ao mesmo tempo que é necessária para que possamos existir no mundo, ela nos coloca numa posição de incerteza constante. Nada é estável, nada é seguro. Cada interpretação é apenas mais uma camada sobreposta às outras, cada uma mais frágil do que a anterior.

Tal como Josef K. em O Processo, o indivíduo que busca interpretar o mundo é constantemente confrontado por uma realidade que se recusa a ser totalmente compreendida. A interpretação, assim como o julgamento de K., nunca é entregue de forma plena, clara ou justa. Estamos sempre à mercê de algo maior, inatingível, que paira além de nossas capacidades de compreensão.