Signo e Instrumentos em Lev Vygotsky
No labirinto da mente humana, onde cada pensamento se entrelaça com o próximo em um emaranhado de significados ocultos, o signo emerge como um guia, um farol que ilumina o caminho tortuoso da compreensão. Sob a sombra de uma lógica implacável, os instrumentos da consciência se revelam não apenas como ferramentas, mas como extensões do próprio ser, moldando e sendo moldados pelas mãos invisíveis do tempo. Em meio a esse cenário de incertezas e transformações, a busca incessante por sentido se torna uma jornada solitária, onde cada descoberta é uma porta que se abre para um corredor ainda mais profundo e misterioso. Atravesse o umbral deste enigma intelectual, onde cada signo e instrumento não apenas explicam, mas transformam a essência do pensamento humano e permita-se ser conduzido pela leitura desse intricado labirinto de ideias, onde cada curva revela novas dimensões da mente. Clique e mergulhe nesta exploração profunda, onde a chave para desvendar os mistérios da consciência está ao seu alcance.
11/14/202410 min read

Lev Vygotsky e a Formação social da mente
No vasto campo da psicologia do desenvolvimento, poucos teóricos exerceram uma influência tão duradoura e transformadora quanto Lev Vygotsky. Suas ideias sobre a mediação cultural e o papel dos signos e instrumentos no desenvolvimento cognitivo continuam a ressoar profundamente nas práticas educacionais e na pesquisa contemporânea. Vygotsky propôs que o desenvolvimento mental humano é fundamentalmente um processo social, mediado por ferramentas culturais que ele denominou "signos" e "instrumentos". Esses elementos não são meramente auxiliares no processo de aprendizagem; eles são, na verdade, constitutivos da própria estrutura do pensamento humano. Os signos, como a linguagem, a escrita, os números e outros sistemas simbólicos, funcionam como ferramentas psicológicas que transformam processos mentais elementares em funções superiores. Eles não apenas facilitam a comunicação, mas também moldam a maneira como pensamos, percebemos o mundo e resolvemos problemas. Por outro lado, os instrumentos referem-se às ferramentas físicas que os seres humanos utilizam para interagir com o ambiente ao seu redor. Enquanto os instrumentos físicos estendem as capacidades corporais humanas, permitindo-nos manipular o mundo de maneiras novas e complexas, os signos ampliam nossas capacidades mentais, permitindo-nos organizar pensamentos, planejar ações futuras e refletir sobre experiências passadas.
A interação entre signos e instrumentos é central para a teoria de Vygotsky, pois ela ilustra como o desenvolvimento cognitivo é um processo dialético de internalização e externalização. A internalização refere-se ao modo como as crianças absorvem as práticas culturais externas e as transformam em parte de seus processos mentais internos. Por exemplo, uma criança que aprende a usar um ábaco não está apenas manipulando contas físicas; ela está internalizando conceitos matemáticos complexos que serão utilizados para resolver problemas abstratos no futuro. Da mesma forma, a externalização ocorre quando as ideias internas são expressas através de signos e instrumentos externos, permitindo a comunicação e colaboração com outros. Este processo contínuo de internalização e externalização destaca a natureza dinâmica do desenvolvimento cognitivo humano, onde o aprendizado é visto como um processo ativo de construção de significado.
Parte de sua abordagem teórica explora a relação entre desenvolvimento cognitivo e a interação social, dedicando-se a esses assuntos, que por sua vez, passaram a ser considerados espécie de elementos mediadores/fixadores entre o conhecimento e a aprendizagem.
Segundo ele, em “A formação social da mente”, tomar posse de um determinado conhecimento, ou seja, fazer com que o incompreendido passe a ser compreendido e ser fixado como parte do repertório de conhecimento particular do ser, a priori, não seria possível sem o diálogo constante entre signos e instrumentos. Ora, o que seriam esses conceitos que, de certa forma antecedem/são paralelos aos estudos linguísticos envolvendo linguagem, semiótica, metalinguagem?
A distinção entre signos e instrumentos é, entretanto, mais complexa do que uma simples categorização entre o simbólico e o físico. Em muitas situações, os dois conceitos se sobrepõem e interagem. Por exemplo, um computador pode ser visto tanto como um instrumento quanto um sistema de signos. Ele é uma ferramenta física que permite a realização de tarefas, mas também opera com linguagem de programação e interfaces gráficas que são sistemas de signos.

Signos
Os signos, segundo Vygotsky, são ferramentas psicológicas que servem para mediar a atividade mental. Eles são essencialmente símbolos que carregam significados e ajudam na formação e comunicação de ideias. Exemplos de signos incluem a linguagem, números, sistemas de escrita, e até mesmo gestos. Através dos signos, os seres humanos conseguem representar o mundo internamente, permitindo a reflexão, a memória e a resolução de problemas complexos.
De maneira abstrata o signo, dialoga com a Teoria das ideias de Platão, e conceitos como o Self Coletivo de Young, para eles, tudo que existe no mundo cognoscível antes existiu anteriormente em outro plano imaterial ou ainda num mundo das ideias como “a ideia perfeita da coisa em si”. O signo, pode ainda, servir como referência para a carga de conhecimento ancestral educacional que o ser humano carrega em seu inconsciente genético/coletivo.
Imagine que você está aprendendo uma nova língua. As palavras que você aprende são signos que representam objetos, ações e ideias. Ao dominar esses signos, você consegue não apenas comunicar-se com outros, mas também organizar seus próprios pensamentos de forma mais complexa. Vygotsky argumenta que essa capacidade de utilizar signos é o que diferencia fundamentalmente o pensamento humano do pensamento animal. Enquanto os animais podem usar ferramentas e resolver problemas simples, a habilidade de usar signos permite aos humanos abstrair, planejar e criar novas realidades.
O signo é uma espécie de entidade que paira sobre nós da qual, a partir dele, surge tudo que conseguimos interpretar na interação entre os sentidos e o mundo que o afeta. Ou ainda um conjunto de ingredientes metalinguísticos que interagem para que o ser humano possa dar significado as coisas a qual interage. Algo que transcende a materialidade para tornar-se não só um veículo de comunicação, mas também comportamental.
Ao traçar paralelos entre Vygotsky e outros teóricos como Saussure, Peirce, Bakhtin e Luria, podemos ver por exemplo, que o conceito de signo é multifacetado e essencial para diversas disciplinas. Enquanto Saussure nos fornece uma estrutura para entender a relação entre significante e significado, Peirce amplia essa compreensão para incluir uma variedade de signos não linguísticos. Bakhtin nos lembra da natureza dialógica e interativa da comunicação, e Luria nos mostra as bases neuropsicológicas da função dos signos.
Vygotsky integra essas perspectivas ao destacar a função mediadora dos signos na atividade mental e no desenvolvimento cognitivo. Ele vê os signos como ferramentas psicológicas que são internalizadas através da interação social e cultural, transformando a maneira como pensamos e resolvemos problemas. Essa visão dinâmica e multifacetada dos signos é fundamental para entender a complexidade do desenvolvimento humano e a formação social da mente.
É possível destacar que os signos não são apenas elementos estáticos de um sistema simbólico, mas são ativos e dinâmicos na construção do conhecimento e na interação social. Eles são a ponte entre o mundo interno do pensamento e o mundo externo da comunicação e ação, moldando e sendo moldados pela experiência humana.
O conceito de signo (dentro dos estudos linguísticos) foi aprofundado, sendo dividido em conceitos conhecidos como “significante” e “significado”, onde o significante é o objeto/material tangível, perceptível aos sentidos, na qual é somente uma das inúmeras representações possíveis da ideia perfeita ao qual pertence.
Significado: Qualquer pessoa em 2024 identifica com facilidade o que é um carro, porém, como é possível se existem tantos quantos carros diferentes possíveis? Em modelos, tamanhos, formas, cores, fonte energética etc. Sendo eles todos diferentes entre si, o que define o que é um carro? Se separarmos o carro peça por peça ainda seria um carro? Eis aí o conceito de significado, a somatória das partes forma um todo que só existe a partir da somatória das partes (teoria geral dos sistemas) o pneu do carro, as maçanetas, painel, som, cor, forma, nada disso corresponde à ideia de carro se estiverem isolados, somente com todas as partes posicionadas estrategicamente em prol do todo (da ideia de carro), é que temos o que se conhece por carro. Logo o significado, dentro do conceito de signo é objeto imaterial que antecede a matéria, ou uma espécie de matéria sutil antes de se transformar em matéria grosseira.
O que identificamos hoje como árvore, parte da ideia de árvore perfeita na qual todas as outras derivam, e provoca o questionamento: O que faz com uma pessoa identifique, sumaúmas, pinheiros e uma frutífera de manga como árvores, sendo que são visivelmente diferentes entre si?
Já o Significante, faz menção ao elemento físico, a forma. Em um contexto cultural, uma cor pode ter significados simbólicos diferentes, exatamente pelo fato do significante ser multisignificado. Para que o carro possa existir, anterior a ele, existiu planejamento (ou seja, foi idealizado), teste, forma, função, mais testes, dentre muitas outras etapas necessárias até chegar na materialização do carro. Significante é a materialização do não material. Mesmo que árvores possam existir antes do ser humano, só entendemos o que é uma árvore, pois no inconsciente coletivo existe uma “ideia de uma árvore perfeita” na qual todas as outras derivam.
O signo, composto de significado (o que antecede) e o significante, (o que foi significado e então materializado), é o elemento abstrato que por meio dele é possível definir o que é o que não é. O que é um pinheiro e o que é uma araucária. Signo é um conceito só sustentado pelos alicerces, significante e significado.
Outro exemplo voltando para o ensino de Artes. Só é possível aprender o conceito, a ideia, ou o signo de “cores primárias”, se por exemplo, este signo estiver acompanhado de instrumentos que criam o meio necessário para a facilitação do aprendizado (Ferramentas como o espaço físico de uma sala de aula, o conhecimento do professor, se tornam um instrumento intangível, e, o lápis de cor, a mesa, cadeira, lousa, são os instrumentos tangíveis) ou seja, para entender o que significa a ideia de cores primárias, são necessários instrumentos que auxiliam na criação de um meio para a compreensão do signo.

Instrumentos
Para Vygotsky, a mente humana é formada por uma complexa rede de interações entre signos e instrumentos. Enquanto os signos permitem a representação e manipulação interna de informações, os instrumentos ampliam as capacidades físicas de interação com o mundo. Juntos, eles formam a base sobre a qual construímos nosso conhecimento, desenvolvemos nossas habilidades e transformamos nosso ambiente.
O conceito “instrumentos”, apresenta-se de maneira plural abarcando quaisquer ferramentas (tangíveis/intangíveis) que se possa fazer uso do meio para facilitar a fixação do novo aprendizado.
Os instrumentos, são ferramentas físicas e não físicas que ampliam as capacidades humanas de interagir com o mundo. Eles são usados para transformar o ambiente externo e realizar tarefas que seriam impossíveis ou muito difíceis de serem realizadas apenas com o corpo. Exemplos de instrumentos incluem martelos, computadores, telescópios e carros. Entretanto também é possível identificar a existência de instrumentos intangíveis, como, instituições, partidos, coletivos, estruturas etc.
Para facilitar o entendimento do conceito é possível dividi-lo em instrumentos tangíveis e intangíveis, a saber:
Instrumentos tangíveis: Quaisquer ferramentas que auxilie o processo de aprendizado e fixação de signos: bandeiras, cores, livros, estruturas, caderno, lápis, dispositivos móveis etc. Tomando como exemplo um martelo como exemplo de instrumento palpável o martelo. Esta ferramenta permite que um ser humano realize a tarefa de pregar um prego na madeira com muito mais eficiência do que seria possível apenas com as mãos. Ao usar o martelo, uma pessoa pode construir casas, móveis e uma infinidade de bens e objetos que possa precisar. Dessa forma, os instrumentos ampliam a capacidade de ação no mundo físico.
Instrumentos intangíveis: Hipnose em sessões de terapia, a própria terapia, a instituição “escola”, “universidade”, “hospital”, “estado”, técnicas em geral, capital intelectual, espaços físicos, museus, a rua, etc. Considerando que no processo cognitivo articulado através dos signos está diretamente ligado ao imaginário do ser, quaisquer ferramentas que contribuem para a criação de um meio onde signos e instrumentos se unem para o Desenvolvimento cognitivo comportamental. Na prática, comemorar seu aniversário, graduar-se na universidade, cerimônias como catequese, subir no pódio de alguma premiação, são instrumentos intangíveis que auxiliam na fixação do signo do que significa conquistar algo, por exemplo.
Em resumo, a partir dos signos (elementos intangíveis, a ideia de um carro, por exemplo) é possível utilizar instrumentos (tangíveis e intangíveis) que favorecem o desenvolvimento no processo de aprendizagem. Ainda no exemplo do carro: as ferramentas tangíveis que são necessárias para construí-lo, o metal, as máquinas, o ser humano por exemplo, (e intangíveis) espaço para fábrica, o projeto do carro, o tempo da fabricação), a ideia do carro, a vontade. A união entre signo e instrumento cria um meio favorável para o aprendizado de uma maneira geral, propondo que não é possível desenvolvê-lo de maneira eficaz sem que exista o signo e instrumento sendo utilizados através de um meio.
O autor sugere que essa interação entre signos e instrumentos é fundamental para o desenvolvimento cognitivo. Quando uma criança aprende a escrever (um sistema de signos), ela usa um lápis (um instrumento). O processo de escrita envolve tanto a manipulação física do lápis quanto a aplicação mental das regras da linguagem escrita. Através desse processo, a criança não apenas desenvolve habilidades motoras finas, mas também capacidades cognitivas mais sofisticadas.
Vygostky então, reforça que a união entre instrumentos e signo, cria um meio favorável para interação social e processos de aprendizagem. Elementos que dialogam entre si e de certa forma possuem uma relação de codependência mas que são, porém, diferentes entre si.
A visão de Vygotsky também destaca a natureza profundamente social e cultural do desenvolvimento humano. Ao compreender a diferença entre signos e instrumentos, podemos apreciar melhor a complexidade da mente humana e o papel crucial que a interação social desempenha na formação de nossas capacidades cognitivas. Em última análise, é através da sinergia entre signos e instrumentos que nos tornamos seres capazes de pensar, criar e inovar, ou ainda ir ao infinito, e além!
Outro ponto central na teoria de Vygotsky é que tanto os signos quanto os instrumentos têm origens sociais e culturais. Eles são transmitidos de geração em geração e são aprendidos através da interação com outros membros da sociedade. A linguagem, por exemplo, é aprendida através da comunicação com pais, professores e colegas. Da mesma forma, o uso de instrumentos é muitas vezes ensinado e aprimorado em contextos sociais, como oficinas, escolas e locais de trabalho.
Essa perspectiva ressalta a importância do ambiente social no desenvolvimento cognitivo. Vygotsky argumenta que não podemos compreender plenamente a mente humana sem considerar o contexto cultural em que ela se desenvolve. Os signos e instrumentos que usamos são moldados por esse contexto e, por sua vez, moldam a maneira como pensamos e agimos.,
A dialética do livro permite que os pesquisadores compreendam como as contradições internas e externas impulsionam o desenvolvimento cognitivo. Por exemplo, a tensão entre a independência e a dependência na infância é uma espécie de contradição que impulsiona o desenvolvimento da autonomia.
Vygotsky incorpora a dialética em seu método, argumentando que o desenvolvimento cognitivo é um processo dinâmico e contraditório. Ele sugere que o desenvolvimento ocorre através da resolução de contradições internas, um processo que é mediado pela interação social e cultural. Além de criticar as abordagens tradicionais da psicologia de sua época que negligenciam o papel da cultura e da história no desenvolvimento cognitivo. Ele argumenta que muitas dessas abordagens são reducionistas e falham em capturar a complexidade dos processos psicológicos superiores. Em vez disso, ele propõe uma abordagem holística que considera a interdependência entre o indivíduo e o ambiente social e cultural.
